Morre Rosa Lobato de Faria


"Delicada. Esta foi a palavra mais ouvida para caracterizar a personalidade da escritora e actriz Rosa Lobato de Faria, falecida na passada terça-feira, aos 77 anos. O funeral, realizado ontem, quinta-feira, em Lisboa, juntou artistas, diversas personalidades e muitos anónimos."




"É o vento que me conta histórias antigas, antigas, como se fosse uma criança que não quisesse dormir. Não ouves? Não. É o vento que sopra só para mim. É o vento manso, doce, da loucura, que me invade lentamente e me deixa à mercê dos seus dedos de nuvem, tão suaves e meigos. Não sei explicar de outra maneira. Mas tu percebes Miguel. Sabes que me sinto cada vez mais terna, cada vez mais feliz."

 Em As Esquinas do Tempo, de Rosa Lobato de Faria




Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.

Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a noite é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.

Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
- o único que sei.

Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.

Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.

Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei.

Rosa Lobato de Faria
 
Em Poemas Escolhidos e Dispersos,
Roma Editora, Lisboa, 1997, p 27.

poema copiado daqui

2 comentários:

BORBOLETA disse...

Surpreendente sua poesia, não?

sonia regina disse...

Eu acho!
Parece que foi meio esquecida - ou até relegada - em Portugal, já que era também atriz de televisão.
Andei lendo que era mulher de um editor - parece que famoso, pelas imensas homenagens.
Só que o poder social não exclui o talento, não é mesmo?