O texto original “As mulheres da minha geração”, de Santiago Gamboa - Sonia Regina


"Si alguno de mis libros hubiera circulado así
yo sería un escritor de fama mundial"


Chovia muito no Rio, o tempo estava frio e passei no face para saber das pessoas, antes de me dedicar à leitura. Entrei no facebook há três anos, mas efetivamente tenho estado por lá agora. Re-compartilhei o vídeo da banda Queen com a música Save Me (Rock Montreal '81).
Fui ao youtube, fisgada. Procurei Bob Dylan e me deparei com Cat Steves cantando Where Do The Children Play. Compartilhei também.
A receptividade de uma amiga da época da faculdade me animou. Procurei a música Love of my life, do Queen, e achei uma boa gravação deles no primeiro Rock in Rio, em 1985.
Eu estava lá. Ô lembrança boa, sem nostalgia...
Lembrei-me de uma outra noite, mais suave, a dita 'romântica'. A expectativa era de menos gente. No grupo estavam minha mãe (com 54) e uma amiga dela, Adelaide, até um pouco mais velha. Chegamos cedo, ainda de dia, deitamos na grama e lá ficamos, esperando. A noite veio linda, toda estrelada, no palco James Taylor cantava pra nós. Magia pura...
Estar passeando por esses eventos e pela música dos anos 80 me levou, por associação de ideias, a um texto que li há aproximadamente dez anos - do escritor colombiano Santiago Gamboa - e gostei muito. Na época me reconheci nele. Era quase universal, pessoas do mundo todo poderiam se ver ali, independente de onde tivessem nascido. O que marcava era a geração. Fiquei me perguntando se ainda o encontraria. Procurei na web e achei várias versões em português e até dúvidas, de alguns, quanto à autoria.
Nada como um desafio para me envolver definitivamente.
Encontrei um artigo do mesmo autor, publicado este ano, referindo-se àquele texto, com link para o texto original. Um arquivo em pdf.
Procurei uma publicação em html, em castelhano, passível de cópia. Meu objetivo era obter o texto original – e compartilhá-lo, claro.
Hoje senhoras de cinquenta e sessenta anos, somos mulheres de uma geração que revolucionou o mundo, propiciando um verdadeiro corte epistemológico. Esse corte e a sacudida no paradigma cartesiano têm proporcionado uma união com as gerações seguintes e uma aproximação com as anteriores. Nossa cultura se estende através desses tempos pós-modernos, a arte nos reúne. 

Continuando minha pesquisa, escolhi uma cópia em português. Mantive a tradução livre de Luiz Augusto Michelazzo e somente cortei os acréscimos para que o texto estivesse de acordo com o original “Las mujeres de mi generación”. Esses acréscimos foram efetuados por leitores nesses 10 anos, conforme diz Santiago Gamboa no artigo “Mujeres”, diez años después, publicado em 29.2.2012 no site prodavinci.com
Foi assim cheguei ao texto que apresento aqui. O verdadeiro texto “As mulheres da minha geração” de Santiago Gamboa, em português e castellano, no qual ainda me reconheço.
 
Sonia Regina



As mulheres da minha geração
Santiago Gamboa
Tradução livre de Luiz Augusto Michelazzo

Texto em português revisto por Sonia Regina
[para estar de acordo com o original]
 

As mulheres da minha geração são as melhores. E ponto. Hoje têm quarenta e picos, inclusive cinquenta e picos, e são belas, muito belas, porém também serenas, compreensivas, sensatas e, sobretudo, diabolicamente sedutoras, isto apesar dos seus incipientes pés-de-galinha ou dessa afetuosa celulite que capitaneia suas coxas, mas que as faz tão humanas, tão reais. Formosamente reais.
Quase todas, hoje, estão casadas ou divorciadas, ou divorciadas e recasadas, com a intenção de não se equivocar no segundo intento, que às vezes é um modo de acercar-se do terceiro, e do quarto intento. Que importa. Outras, ainda que poucas, mantêm um pertinaz celibatarismo e o protegem como a uma fortaleza sitiada que, de qualquer modo, de vez em quando abre suas portas a algum visitante.
Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração! Nascidas sob a era de Aquário, com a influência da música dos Beatles, de Bob Dylan. Herdeiras da “revolução sexual” da década de 60 e das correntes feministas que, entretanto, receberam passadas por vários filtros, elas souberam combinar liberdade com coqueteria, emancipação com paixão, reivindicação com sedução.
Jamais viram no homem um inimigo apesar de que lhe cantaram umas quantas verdades, pois compreenderam que se emancipar era algo mais que colocar o homem para esfregar o banheiro ou trocar o rolo de papel higiênico quando este, tragicamente, se acaba, e decidiram pactuar para viver em dupla, essa forma de convivência que tanto se critica porém que, com o tempo, resulta ser a única possível, ou a melhor, ao menos neste mundo e nesta vida.
São maravilhosas e têm estilo, mesmo quando nos fazem sofrer, quando nos enganam ou nos deixam. Usaram saias indianas aos 18 anos, cobriram-se com suéteres de lã e perderam sua parecença com Maria, a Virgem, em uma noite louca de sexta-feira ou de sábado, depois de dançar.
Vestiram-se de luto pela morte de Julio Cortázar, falaram com paixão de política e quiseram mudar o mundo, beberam rum cubano e aprenderam de cor canções de Silvio e de Pablo, adoravam a liberdade, algo que hoje inculcam em seus filhos, o que nos faz prever tempos melhores, e, sobretudo, juraram amar-nos por toda a vida, algo que sem dúvida fizeram e que hoje continuam fazendo na sua formosa e sedutora madurez.
Souberam ser, apesar da sua beleza, rainhas bem educadas, pouco caprichosas ou egoístas; deusas com sangue humano. O tipo de mulher que, quando lhe abrem a porta do carro para que suba, se inclinam sobre o assento e, por sua vez, abrem a do seu acompanhante por dentro.
A que recebe um amigo que sofre às quatro da manhã, ainda que seja seu ex-noivo, porque são maravilhosas e têm estilo, ainda quando nos fazem sofrer, quando nos enganam ou nos deixam, pois seu sangue não é gelado o suficiente para não nos escutarem nessa necessária e salvadora e última noite, na qual estão dispostas a servir-nos o oitavo uísque e a colocarem, pela sexta vez, aquela melodia do Santana.
Por isso, para os que nascemos entre as décadas de 40, 50 e 60, o dia da mulher é, na verdade, todos os dias do ano, cada um dos dias com suas noites e seus amanheceres, que são mais belos, como diz o bolero, quando você está. Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!


Texto Original
Las mujeres de mi generación
Santiago Gamboa

Las mujeres de mi generación son las mejores. Y punto. Hoy tienen cuarenta y pico, incluso cincuenta y pico, y son bellas, muy bellas, pero también serenas, comprensivas, sensatas, y sobre todo, endiabladamente seductoras, esto a pesar de sus incipientes patas de gallo o de esa afectuosa celulitis que capitanea sus muslos, pero que las hace tan humanas, tan reales. Hermosamente reales.
Casi todas hoy, están casadas o divorciadas, o divorciadas y vueltas a casar, con la idea de no equivocarse en el segundo intento, que a veces es un modo de acercarse al tercero, y al cuarto intento. Qué importa. Otras, aunque pocas, mantienen una pertinaz soltería y la protegen como una ciudad sitiada que, de cualquier modo, cada tanto abre sus puertas a algún visitante.
¡Qué bellas son, por Dios, las mujeres de mi generación! Nacidas bajo la era de Acuario, con el influjo de la música de Los Beatles, de Bob Dylan. Herederas de la "revolución sexual" de la década del 60 y de las corrientes feministas que, sin embargo recibieron pasadas por varios filtros, ellas supieron combinar libertad con coquetería, emancipación con pasión, reivindicación con seducción.
Jamás vieron en el hombre a un enemigo a pesar de que le cantaron unas cuantas verdades, pues comprendieron que emanciparse era algo más que poner al hombre a trapear el baño o a cambiar el rollo de papel higiénico cuando este, trágicamente, se acaba, y decidieron pactar para vivir en pareja, esa forma de convivencia que tanto se critica pero que, con el tiempo, resulta ser la única posible, o la mejor, al menos en este mundo y en esta vida.
Son maravillosas y tienen estilo, aún cuando nos hacen sufrir, cuando nos engañan o nos dejan. Usaron faldas hindúes a los 18 años, se cubrieron con suéteres de lana y perdieron su parecido con María, la Virgen, en una noche loca de viernes o de sábado después de bailar.
Se vistieron de luto por la muerte de Julio Cortázar, hablaron con pasión de política y quisieron cambiar el mundo, bebieron ron cubano y aprendieron de memoria las canciones de Silvio y de Pablo, adoraban la libertad, algo que hoy le inculcan a sus hijos, lo que nos hace prever tiempos mejores, y, sobre todo, juraron amarnos para toda la vida, algo que sin duda hicieron y que hoy siguen haciendo en su hermosa y seductora madurez.
Supieron ser, a pesar de su belleza, reinas bien educadas, poco caprichosas o egoístas; Diosas con sangre humana. El tipo de mujer que, cuando le abren la puerta del carro para que suba, se inclina sobre la silla y, a su vez, abre la de su pareja desde adentro.
La que recibe a un amigo que sufre a las cuatro de la mañana, aunque sea su ex novio, porque son maravillosas y tienen estilo, aún cuando nos hacen sufrir, cuando nos engañan o nos dejan, pues su sangre no es tan helada como para no escucharnos en esa necesaria y salvadora última noche en la que están dispuestas a servirnos el octavo whisky y a poner, por sexta vez, esa melodía de Santana.
Por eso, para los que nacimos entre las décadas del 40, 50 y 60, el día de la mujer es, en realidad, todos los días del año, cada uno de los días con sus noches y sus amaneceres, que son más bellos, como dice el bolero, cuando estás tú. Qué bellas son, por Dios, las mujeres de mi generación!


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As mulheres da minha geração
Autor: Santiago Gamboa
Tradução livre de Luiz Augusto Michelazzo
Texto em português revisto por Sonia Regina
[para estar de acordo com o original]


Fonte: artigo Mujeres”, diez años después, escrito por Santiago Gamboa e publicado em 29.2.2012 no site prodavinci.com






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