a paz líquida que me cabe

sonia regina





o meu reino não é aqui, no topo desta colina
de mãos dadas com as coisas que sabem
entrar no silêncio

deixei minha melhor audição
na poltrona onde penso o caos
e confirmo que tudo vai bem

não temo o movimento da fonte:
eu também me movo.
aprendi a nadar nas lágrimas, mas já não choro

e tampouco cintilo

desisti dos brilhos que competem à natureza.
não me orvalho, não me banho de sereno,
nem é essa a paz líquida que me cabe

um rubro sentimento aquece minhas veias

há uma corrente carmim que desliza
e me impele para longe dos espelhos
por onde penetra a solidão

a vida sobe pelas paredes da casa
e a lagoa abre-se para nossas portas.

[23.7.09]



imagem: Cris Ardelean



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