percorro o meu céu e lavo a escuridão do vale
das sílabas. sombras desgarradas mergulham
fundo no poço de letras, na ponta de uma corda
que construo com as flores, em dança noturna
à deriva, na geografia do coração, meu desejo
transcende, condensa e chove. Escorre da beira
das águas curvas, em direção à habitação dócil
que o novo corpo ergueu
eu te desenho com o traço grosso do nível erótico
e numa estratégia da água da alma te deixo entrar.
liberta da muralha dos sentimentos, minha pele
abre-se em aves e voa, no oco do ar.
Dança o poema, no eclipse do meu estar,
até que as mãos toquem o chão. E sejam.
E agarrem a vida em forma de areia.
o vento rosa desliza e, nas meadas de gestos
e palavras, desembaraça fios de instabilidade
e fragilidade. O vulnerável faz rimas para ver
seu reflexo e, no cotidiano, faz eco.
De novo te deixo entrar, ó ser das sombras,
o que desobriga luz e trevas, movimenta-se
entre os elementos, pulsa, arde.
És ar, fogo, terra... e brotas d’água.
Percebo a que distância um nome deixa de doer:
é quando passo através do teu céu e teus pássaros
se perdem em meus olhos, num beijo sem oceano
é impossível não atender o chamado e percorrer,
mesmo em silêncio, esse teu caminhar que ondula
cansaços sem abrigo e me acompanha, nas marés
senhora das águas curvas, sou líquida, fluo, quero
“abrir ao máximo as minhas mãos finas para colher”
[contigo]
“ o paraíso”[1]
sonia regina
"A terra ao longe multiplica-se em sorrisos imóveis, o céu envolve a vida: um novo astro do amor desponta em todos os horizontes, e eis que os últimos sinais da noite se desvanecem." Paul Eluard
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[1] emily dickinson
[1] emily dickinson
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