um fulgor familiar




se a emoção é destronada
e a reflexão concluída,
num movimento imperceptível
o tempo pisca certezas:
não expira.
a essência respira na arte,
o caráter enigmático da obra fala:
basta que eu me cale
como um papel em branco
ou sapatos
que não levam a parte alguma.

uma aproximação sensível diz
do poder nominativo das palavras.
vôo nas cansadas,
dou-lhes jeito de casa.
por vezes de pássaros
ou de água.
o texto é uma paisagem verde
saída do originário nada.

mas deixem minhas raízes
no meu mundo,
não me roubem a poesia.
os signos não precisam de reparos
nem é necessário que se lavem
as marcas.
os significados são exatos,
singulares borrifos no olhar.

é particular, o meu mistério.
se a esfinge oculta se revela,
é um fulgor. familiar.


sonia regina
3.10.09


imagem: pintura de Vincent van Gogh



Nenhum comentário: