Canto Primeiro

A Maria Gabriela LLansol

por Sonia Regina


O barulho de vidro espatifado foi como um murro em seu peito. Segurou-se na poltrona. As letras se embaralharam no papel, a leitura escapuliu do colo.
Branca tinha horror a vidro partido, a estilhaços. Foi à cozinha. Nenhum copo ou prato quebrados. Olhou pela janela... Nada, tudo na mais santa paz. Retomou os papéis.
Não tinha senão folhas com trechos de diferentes livros daquela autora por quem se apaixonara em dezembro de 2007. Releu:
“Abel sentou-se no chão. Via Sara de perfil, debruçada sobre o alguidar em que a brancura dos pratos purificava a água suja.
- Sara, tudo o que existe faz aumentar a luz.
- Como?
- Metes as mãos na água ela sobe no alguidar. Metes nesta casa uma cama, um armário e a luz também tem de aumentar. Tem de ir para algum sítio a luz que já não está no lugar da cama e do armário.
- Mas não é assim?
- Não. Pensei isto de manhã, enquanto guiava a camioneta.
Sara sentou-se também no chão, em frente de Abel. Os seus pés não tinham meias, nem sapatos.
As palavras "Sara, tudo o que existe faz aumentar a luz", " Metes nesta casa uma cama, um armário e a luz também tem de aumentar", eram o vidro que desunia os corpos de Sara e Abel."
“Foi daqui o barulho”, cogitou. “Eu quebrei esse vidro”. Já não era a primeira vez que isso acontecia. Algo se manifestava quando lia ou via imagens que a puxavam para a cena.



ler  aqui 



Nenhum comentário: