Atrás do dia na terra do sol


Núbia desligou o telefone. A Princesa Maya estava bem: sem pedras na bexiga, sem câncer no rim. Aquelas, porque foram retiradas. Este, porque não existia. O exame dera negativo e logo sua cachorrinha estaria de volta.

Vivera nos últimos dias entre tensões e alívios. Os sentimentos aflitivos Núbia desterrara para o papel. Subjugara-os com palavras, as emoções subindo e descendo por suas letras como em uma montanha russa.

O cansaço, bem, esse acabava de expulsar com aquele bom sono. Dormira até às quatorze horas. O tempo estava ameno, nenhum barulho senão o canto dos pássaros.

O copo de leite na mesinha de cabeceira terminou de acordá-la. Urgia tomar os remédios que arrebanhara pela vida e ainda não podia dispensar: ansiolíticos, para controlar a pressão... que era mesmo grande.

Com o olhar perdido no azul e nos braços o frescor de julho, Núbia escapulia das sensações que rapinam o Verbo. Estava farta de maus pensamentos, não mais ofereceria o baço ao fel.

Dadinho fazendo a sesta na sala e vozes distantes de conversas pouco animadas davam um tom morno à tarde na terra do sol.

Sentada embaixo da árvore do quintal, olhou demoradamente o movimento das folhas. Os galhos indo e voltando ao vento confirmavam a serenidade daquelas horas. Talvez isso se desse sempre em momentos assim do inverno carioca, mas para Núbia eram instantes especiais.

Pressentia o mágico mistério atrás do dia esplendoroso, milagre de ouro a cobrir tudo.



Sonia Regina
09092010

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