perturbações



ah, meu amor, como é difícil a restauração!
teu cinzel remove calos ósseos, na carne viva
sangra excessivamente cada retalho

o texto convoca o silêncio
é obscura e fria a linguagem do narrador

no ventre de cada letra petrificada vês o cerne
amedrontado com o narciso movimento da
onipotência num mundo dionisíaco e perverso

os versos ainda não sabem ser gestos
mas a paixão arde nos subterrâneos
e o olhar já descreve órbitas maiores

o leito esteve ameaçado por monstruosidades
que entravam pela janela. como fechá-la
e perder o mundo?

cada esgar transmutava-se em máscara.
na desumana estreiteza uma abertura
divina sobre as cabeças

entre abismos celestes
para trás dos ombros, as perturbações

e, à frente, o verbo preferir.


sonia regina

11.4.09

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