A lua de Bashô

Adriana Lisboa

















A lua de Bashô
(trecho copiado do site da autora em http://www.adrianalisboa.com.br/publicacoes/aluadebasho.html )

publicado na revista Lugar da Folha de São Paulo em 17.12.2007


Na sala da minha casa, metade de uma parede está coberta com os quadros que eu trouxe de Kyoto. A viagem - terá acontecido ou não? Sei que ela começou a acontecer: e faz uns cinco anos, quando ouvi falar num certo diário de viagem de Matsuo Bashô. Nesse diário, o poeta japonês do século dezessete narra que foi "possuído pelo desejo de ver a lua cheia nascendo sobre as montanhas do santuário de Kashima", único propósito de sua viagem.

Nos anos que se seguiram persegui a lua de Bashô também eu. Em livros que lia. No livro que tentava escrever e que fugia de mim, em páginas virtuais que não queriam dar em lugar nenhum, que desconheciam o caminho para o santuário de Kashima. Faltava-me um chapéu feito com folhas de cipreste. Faltava-me pôr os pés no Japão.

Escolhi a cidade de Kyoto, aonde fui por um mês, em 2006, com uma bolsa Fellowship da Fundação Japão. Ainda morava no Rio, e o trajeto aéreo, quase indescritível, seria Rio-São Paulo-Toronto-Tóquio-Osaka (fica lá o aeroporto mais próximo a Kyoto). Cheguei a embarcar para São Paulo, mas não pude seguir para Toronto: me haviam dado, no Consulado Geral do Canadá, a informação errada de que eu não precisava de visto para fazer a conexão. Perdi o vôo. Chorei, sentada num degrau do aeroporto, e quando acabei de chorar voltei para o Rio. A Fundação Japão me autorizou a comprar outro bilhete, dessa vez Rio-Amsterdam-Osaka.

Cheguei ao aeroporto de Kansai, na grande ilha de Honsh?, numa manhã, depois de um vôo interminável, que se sucedeu a outro vôo interminável, sem saber mais se devia sentir sono ou fome ou o quê. Havia uma van esperando para levar a mim e a outros passageiros até Kyoto. Fui a última a ser deixada em seu destino - no Nichibunken, International Research Center for Japanese Studies, onde ia me hospedar.



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Imagem: André Torres

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