Da antiutopia do capital à utopia do social: para seguir reconstruindo um país - Sonia Regina

Este título é uma adaptação de frase de Silvio Tendler no filme Privatizações: a Distopia do Capital (2014). Revi esse filme agora, aos poucos, de maneira que pudesse redigir e divulgar algumas falas e os nomes dos entrevistados.

É esse meu jeito de ser - compartilhar o conhecimento de maneira que cada um seja autônomo  na construção de suas idéias e na reflexão política- que me faz escrever este texto.

Fiz muitas leituras em jornais e blogs durante estes meses e me impressionou o depoimento de Jean Wyllys, deputado federal do PSOL reeleito pelo Rio de Janeiro, no evento chamado "levante das Cores",  no dia 11/10 em São Paulo. Não sou filiada ao PSOL ou PT ou partido algum, não sou ativista social, mas as metáforas que Wyllys usou, ao falar de si, me calaram fundo: - "não dá pra ficar em cima do muro", não dá para lavar as mãos como Pilatos". 

Vivemos todos os brasileiros um momento de escolha muito sério e grave, e não quero me omitir. Seja com poesia ou prosa, a minha palavra não deixará de ser dita. Os que me conhecem sabem que sou assim. Assim fui professora e psicóloga, assim sou poeta e escritora. Cidadã, antes de tudo.

Diz Eugênio Evtuchenko, na  página 8 de seu livro Autobiografia Precoce:

Diante de um espelho, que os homens digam, não quantas vezes mentiram, mas simplesmente, quantas vezes preferiram o conforto do silêncio. 

Sei que eles têm um álibi, com certeza, inventado por seus similares: o silêncio é de ouro. A eles eu responderia: essa espécie de ouro não é pura. Esse silêncio é falso.

Isso é válido para todos os mortais, mas cem vezes mais ainda para os poetas, que devem expressar uma verdade concreta. Quando se começa por silenciar a sua própria verdade, acaba-se por silenciar sobre as verdades, sofrimentos e infelicidades dos outros.

Estarmos presentes, ainda que só com o nosso dizer poético, é um passo que pode ser dado para que celebremos, com amor, o mistério da vida. É deixar que nossos silêncios internos se manifestem na ação e sejam  uma expressão política,  através - ou não - da arte. 

Tenho n motivos para não votar em Aécio. Para além das críticas ao atual governo está meu conhecimento de que não podemos regredir para um projeto de nação com fundamento na ideologia neoliberal. O filme de Silvio Tendler a explica bem. Vejam-no, tem menos de uma hora.

"Precisamos de um projeto de nação. Não capitalista, mas dirigido pela burguesia no sentido de organizar a economia para atender às necessidades da população".

"No neoliberalismo há um esvaziamento da política e da democracia passando a refletir os interesses do capital, capital financeiro, que leva ao enfraquecimento financeiro e material do Estado". "Há redefinição do papel do Estado e perda  de elementos fundamentais da soberania nacional".

Quero para o Brasil um projeto de nação que não nos traga a flexibilização da soberania nem a obstrução na efetivação de diversos direitos sociais. Essas são consequências que a globalização econômica e a  ideologia neoliberal causam nos Estados-Nação. 

Não creio nas teses que apontam para o fim dos Estados-Nação. Essas teses põem em risco a concretização de um dos principais objetivos inerentes ao Estado Democrático de Direito,qual seja, a redução das desigualdades sociais.

Creio que:

"O que deve ser ensinado em um país é problema de deliberação e construção coletiva, pública";

"O Estado é problema do país e é desconstruído no processo de privatização";

"A empresa estatal olha vários outros aspectos que não cabe à empresa privada olhar, tem interesses cuidados...";

"O sistema financeiro deve estar sob controle público, dos bancos públicos - em nosso caso o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES." "A Islandia,  para sair da crise,  já reestatizou seus bancos" . Isso foi em 2012. Pode ser lido em vários jornais, é só procurar "referendum islandes" ;

"O passe livre é possível, é um dado de uma utopia importante" nos transportes públicos.

Verifico que:

"A energia eletrica privatizada saiu mais cara e menos eficiente. A privatização gerou apagões e preços mais elevados";

O "capital financeiro especulativo criou títulos de crédito de carbono vendidos na Europa. Isso já foi feito aqui, em áreas indígenas do Acre".

Todas as citações estão no filme, são de alguns dos entrevistados. Também há, no filme Privatizações: a Distopia do Capital (2014), de Silvio Tendler, citações de Milton Santos: Geógrafo falecido em 2001, Professor-Doutor da UFRJ e USP. Escreveu Por uma geografia nova, traduzido para vários idiomas em diversos países, que preconiza uma geografia voltada para as questões sociais. Em 1994 recebeu o prêmio Vautrin Lud, considerado o Prêmio Nobel da Geografia. 

Os entrevistados são: 

Carlos Vainer - professor titular do IPPUR/UFRJ;

Carlos Lessa - professor da UFRJ;

Eduardo Fagnani - Professor do Instituto de Economia da Unicamp;

Ermínia Maricato - professora titular da USP;

Samuel Pinheiro Guimarães - embaixador;

Marcio Pochmann - professor da unicamp;

Paulo Vivacqua - presidente da Academia Nacional de Engenharia;

Luiz Pinguelli Rosa - professor da COPPE/UFRJ;

Guilherme Estrella - geólogo aposentado da Petrobrás;

Marcos Dantas - Professor titular da Escola de Comunicação da UFRJ;

Maria Inês Dolci - Coordenadora Institucional Proteste - Associação de Consumidores;

Ladislau Dowbor - economista e professor da PUC/SP;

Maria Inês Souza Bravo - Professora da FSS-UERJ e integrante da Frente Nacional contra a privatização da Saúde;

Gaudencio Frigotto - educador e professor da PPFH/UERJ;

Pablo Gentili - Professor da UERJ e Coordenador do LPP;

João Pedro Stédile - João Pedro Stedile é um economista e ativista social brasileiro. É graduado em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e pós-graduado pela Universidade Nacional Autônoma do México. É membro da coordenação nacional do MST e da Via Campesina Internacional;

Henri Acselrad - Professor do IPPUR/UFRJ e Pesquisador do CNPQ;

Vagner Freitas - presidente da CUT.

Bem, sugiro que vejam o filme, façam suas reflexões políticas, tirem suas conclusões. Está abaixo. Incorporei-o aqui a partir do endereço original http://www.youtube.com/watch?v=A8As8mFaRGU , do Caliban Cinema e Conteúdo - Canal Oficial de divulgação da filmografia de Silvio Tendler. 

Parafraseando Silvio Tendler, "este é o momento". Para mim, de votar na Dilma.








Nenhum comentário: