DIALOGANDO COM JORGE VICENTE:




o pousio dos versos recolhidos


venta nos lábios a voz de um verso atento
ao bailado das folhas, mas o dia é de lavra
urbana para a poesia

em frente à igreja já não há pombos, pão
ou migalhas; a oração sussurra, ainda viva
entre os cordéis de lembranças infantis

o passeio de uma borboleta não faz tremer
o pousio dos versos recolhidos no olhar.


sonia regina
27.01.09



poema anterior, de jorge vicente:


danço ao vento e reparto a minha
voz. o pão dado aos vizinhos são
as migalhas dos pombos da minha

rua. um cordel de asa, uma voz sempre
viva - o pião, o tambor de brincar e o
olhar sempre ausente de uma borboleta
passeando.


jorge vicente
26.01.09

4 comentários:

José Félix disse...

tenho o pousio nos dedos
afasto todos os medos

numa conversa informal
que pode ser desigual

na virtude de cada um;
um raio de luz, nenhum

sentido que dá a vida
lavra na mão a medida

do que é a sementeira.
haverá outra maneira

de uma safra que se abasta
sem aquela mesa farta?

José Félix

sonia regina disse...

eu não creio que seja cedo;
não é folguedo, brinquedo,

o silêncio unilateral.
o que se diria, afinal,

de virtudes em jejum
numa refeição incomum?

uma jornada sofrida
fere as mãos nessa lida

tão pouco prazenteira.
mas à semente, altaneira,

a lavra promete um basta:
e a safra da mesa se aparta.

sonia regina

José Félix disse...

o pousio é um fadário
que nos resta de um diário

feito sem consequência.
no intervalo da ausência

vamos fazendo de conta
que a vida que nos afronta

é um linfoma, um nódulo
que levamos como rótulo

p'ra eternidade da cal;
nada mais resta que o sal

josé félix

sonia regina disse...

“um descanso necessário
que não fosse relicário

vivido com prudência
[e alguma consciência]

seria pousio de monta,
uma vida menos tonta.

atenta às traições no ósculo,
não pagues nenhum óbulo”

diria, em cerimonial,
um mestre especial.

sonia regina