I Pequeno canto às mães e a Herberto Helder I
Soube ontem pelo meu amigo Cássio Amaral (poeta colaborador de Letras et cetera) que sua filhota vai nascer amanhã. Quis escrever um poema, mas minha poesia anda arredia. E no entanto sei que somos, todos, um poema em construção. Como tal, um vigor quase visceral - desencapado de meiguice.
A fúria contida na energia pura pode afastar - ou aproximar, quando reconhecemos o litoral que nos circunda e unifica. Letras, versos, frases; filhos, mães, pais - o poder num estado de fusão, tamanha a quietude geradora em que surgem, num momento secreto e íntimo.
Lembro-me do poema FONTE II , de Herberto Helder, que sempre me fascinou. E intrigou. É de uma beleza e força inimagináveis. Como as mães.
As mães e seus filhos, uma paixão para a vida toda. Um sentimento suave e arrebatador, terno e apaixonado, toma as mulheres que engravidam. Cresce. Abre-se ao tempo e ao mundo. Estampada em sua face, a plenitude. No olhar das mães, o Amor – sem tradução. Não há palavras ou imagens que o signifiquem. Os gestos somente o indicam. Uma pureza arrebatadora sorri em suas faces, uma inconcebível calma as conduz nos momentos de dificuldade dos filhos.
"No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios."
As mães cedem os corpos, que agem comandados pelo afeto. E em silêncio elas "são". Unas.
"Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte."
O Amor as acompanha desde as entranhas que abrigaram os filhos. Torna-as lindas. Com suavidade ou furor, sempre ternamente. O amor das mães é visceral.
"E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos."
As mães são criaturas que os filhos geram.
"As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães."
As mães foram criadas por doação. E para doação. Um colo interminável, um tesouro que atravessa intempéries e oceanos oferecendo-se aos filhos.
"No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios."
As mães cedem os corpos, que agem comandados pelo afeto. E em silêncio elas "são". Unas.
"Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte."
O Amor as acompanha desde as entranhas que abrigaram os filhos. Torna-as lindas. Com suavidade ou furor, sempre ternamente. O amor das mães é visceral.
"E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos."
As mães são criaturas que os filhos geram.
"As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães."
As mães foram criadas por doação. E para doação. Um colo interminável, um tesouro que atravessa intempéries e oceanos oferecendo-se aos filhos.
05.02.12
Nenhum comentário:
Postar um comentário